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Como foi estar na Argentina durante as eleições presidenciais?
Atualizado em

Um post difícil de escrever
Comecei a escrever ainda em Mendoza, na Argentina, logo depois das eleições em novembro de 2023.
Deixei de lado porque ainda precisava digerir muitas coisas e só agora, 7 meses depois, consigo voltar à escrita!
Até aqui já caminhei por muitos lugares, fisica e psiquicamente.
De Mendonza fui à Ushuaia, ao Uruguai e voltei à Guaianases, bairro onde nasci e cresci para passar um período com a minha família.
De lá vim a Ubatuba onde morei em um hostel que, sem ter escolhido conscientemente, só tinha argentinos.
Mates, poros, charlas e minha visão foi sendo alimentada ainda mais, o que exigiu uma digestão mais minuciosa.
No final, foi bom fazer essa pausa antes de escrever porque me ajudou a entender para transmitir ainda melhor o que vi e vivi.
Afinal, levar o nosso corpo a lugares nos permite entender os contextos de um jeito mais rico.
Segue comigo essa viagem até o final e me diga o que ela despertou em você!
Pegue seu mate ou sua cerveja gelada e acomode-se na poltrona enquanto compatilhamos histórias e viajamos em uma linha do tempo muito contundente!
A história é longa, mas te garanto que vale a pena porque vamos viajar pelo tempo e por lugares incríveis!
“Viajar é mudar a roupa da alma”
Mário Quintana
Cheguei em Buenos Aires bem perto das eleições


Substituir essa imagem
Leia no link acima como e porque cheguei nessa data! (Spoiler: passagem aérea em promoção)
Vivi tantas coisas incríveis nessa cidade!
Cheguei sem muitos planos, mas com muitos desejos!
Levei um tempo me sentindo e vivendo tudo o que me foi possível viver!
Nos meus últimos dias em Buenos Aires, dias antes das eleições, saí do hostel, no meio de uma reunião com a Comunicação Digital, empresa qe criou esse blog, em que resolvíamos assuntos sobre o lançamento do blog.
O tema era o livro: “O tempo da rosa: uma breve história de amor em Buenos Aires” que é uma crônica que escrevi ainda em Buenos Aires sobre um romance extra-tropical que vivi em Buenos Aires.


Está incrível! Recomendo a leitura com uma taça de vinho e um lugar aconhegante para viajar comigo nessa história!
El Federal, o bar mais antigo de Buenos Aires.


Ele é muito importante para a minha história, já que é cenário do livro acima.
Um belo pra ser a cena final de um romance, não?
Escrever mais aqui!
Sou emocionanda mesmo!
Nanda Alcantâra – emocionanda
Viajo, conheço os boy, me apaixono, caso e divorcío em três dias!
Ainda escrevo um livro para “elaborar o luto do amor natimorto”.
Chegando em San Thelmo, entrei no bar El Federal que estava razoavemente cheio.


Fui até a mesa em que me sentei no meu ultimo encontro com o uruguaio do livro acima, que foi o grande amor viajeiro e personagem nessa história.
Tirei algumas selfies enquanto esperava ser atendida e digeria lentamente o que tinha vivido até ali!


Ainda digerindo o “divórcio de ficante” (quem nunca se deparou com uma série de reflexões após um breve romance?)
Enquanto esperava ser atendida, ouvi um diálogo em português na mesa ao lado:
– Vamos acompanhar juntos, companheiro…
– Em Brasília aconteceu…
Seguiram falando quando eu intervi pedindo à mulher que tirasse uma foto pra mim.
Contei a eles que era pro meu blog, falei sobre o livro e sobre a importância daquele lugar para mim naquele momento.
Então eles me perguntaram um pouco mais sobre mim e sobre o projeto dos livros e do blog.
A esse ponto da história eu já tinha deixado a minha mesa!
Saí dela com as fotos no celular que representavam o final de uma história bonita de amor-romântico e a escolha de seguir os caminhos que meu coração pediu: naquele momento era encerrar de vez aquela história e me abrir para novos capítulos ao sentar ao lado de Dani e Bento!
Foi tão importante encontrar dois brasileiros e compartilhar como estava sendo para nós viver este momento histórico na Argentina!
Pense numa mulher retada!


Danielle Santana, uma potência de mulher que foi um feliz encontro do acaso e é parte importante dessa história.
Dani é militante do Nucleo do Partido dos Trabalhadores (PT) na Argentina.
Eu não sabia que o PT tem núcleos fora do Brasil, mas ela me contou que tem em vários países!
Conversamos sobre como estava sendo para nós estar na Argentina e o quanto isso despertava em nós gatilhos emocionais e até fisícos de tudo o que vivemos em 2018 nas eleições presidencias!
Gatilhos de tudo o que vivemos depois e que, na verdade, temos enfrentado até hoje por conta da escolha democrática que levou cada um de nós a lugares de sofrimento coletivo e indivivuais semelhantes!
Estávamos ali vendo a Argentina viver o que vivemos alguns anos antes, com um medo absurdo do que viria aos hermanos e, por consquência, do que isso representaria para a latinoamérica!
Dani me mostrou um vídeo de uma fala sua em um vagão do metrô em Buenos Aires que viralizou nas redes falando exatamente sobre isso!
No vídeo, ela contextualizava aos argentinos presentes sobre a sua história, como mulher brasileira que vive entre Brasil e Argentina há muitos anos, e alertando dos riscos que corriam!
Era de doer o estomâgo ainda vazio já que eu esperava o almoço no breve período de pausa entre o trabalho do blog e os atendimentos psicológicos que eu ia começar depois do almoço.
Sim! Se você está chegando aqui agora, preciso te contar que sou nômade digital!
Vivo essas histórias enquanto trabalho e sigo a vida como todo mundo que vive em seus lugares conhecidos!
Dani me chamou para acompanhar a apuração das eleições junto ao coletivo que participa!
Fiquei super empolgada e mudei a data que eu ia começar no voluntariado em Mendoza para poder participar (o que merece só um post para falar sobre voluntariado e minha experiência chocante, mas em outro momento conto!).
Preciso contar um trecho da minha história para você entender melhor o meu ponto de vista:
É importante contar que fui militante do PT por toda a minha adolescência, mas deixei a militância partidária em 2004 e não pretendo voltar!
Isso é parte importante da minha história!
Aos 17 anos fiz a minha primeira viagem sozinha: fui à primeira Posse do Lula como presidente do Brasil!


Que momento, senhorxs!
Mas isso é outra longa história!
Dani me convidou para assistir a a apuração das eleições com eles, brasileiros e argentinos que apoiavam Massa.
Por isso, mudei a data da minha viagem para Mendonza para participar daquele momento histórico!
Para mim era uma oportunidade incrível!
Eu pude me imaginar em um lugar que nunca conheci, mas que, na minha fértil imaginação, me lembrava o Diretório do PT em Guaianases.
Essa é uma memória do final da minha infância!


Era um ambiente simples perto da antiga “regional”, subsede de prefeitura nos bairros antes da criação das subprefeituras na Gestão de Marta Suplicy, na época em que foi prefeita pelo PT.
Me lembro das imagens do Che Guevara, frases e livros de escritores que eu nunca tinha ouvido falar até então, adultos tão diferentes dos adultos que eu conhecia na minha pequena bolha (família e escola).
Me lembro da fascinação que eu sentia ao olhar para eles naquele ambiente que, na minha memória era encantador com seu cheiro de cigarro, cerveja, livros e jornais velhos povoado por adultos que falavam sobre o mundo com tanta paixão pela justiça social!


E as mulheres?
Elas, além do que já mencionei acima, falavam sobre política, sobre direitos das mulheres, elas falavam sobre tantas coisas!
Elas falavam!
Elas faziam!
Elas foram inspirações pra mim, tão pequenininha, vendo mulheres de luta como tantas que encontro em meu caminho!
As mulheres que encontro e que sempre me levam a um encontro comigo, seja onde for ou em quaquer tempo da minha vida!


Viajei no tempo e voltei ao presente, aquele presente assustador que a Argentina vivia me fazendo recordar o passado nada distante do Brasil!
Infelizmente, eu nunca conheci esse lugar!
Até hoje ele existe apenas na minha imaginação já que eu não consegui chegar lá no dia das eleições!
Acontece que, há dois anos, depois de ter Covid-19 diagnosticada, fiquei com uma sequela da Sindrome de Fadiga Crônica.
Sendo bem objetiva, quando entro em crise, não tenho forças para sair da cama!
Sinto um cansaço que faz meu corpo ficar imóvel!
- Sentar é um desafio!
- Andar é um martírio!
Estou investigando isso por todo esse tempo, agora finalmente estou melhor, não bem ainda!
Mas agora encontrei perspectivas de tratamento.
Vou falar sobre isso em outro post!
Enfim, naquele fatídico domingo, saí do hostel para ir à Feira de SãoThelmo almoçar e aproveitar o dia!
Nos meus planos, depois eu encontraria a Dani para acompanhar a apuração com o pessoal, conforme o combinado!
Entetanto, após andar um pouco a fadiga me abraçou!


O casaço era tão forte que eu nem consegui pegar um ônibus para voltar ao hostel!
Precisei ir de Uber!
O sono, sintoma classico dessa fadiga, me dominou e dormi no carro enquanto conversava com o motorista!
É, minha gente!
Essa fadiga faz isso comigo!
Nem eu mesma sei de onde tirei coragem para viajar o mundo passando por isso!
Mas, por um tempo eu sabia que não poderia parar!


Fui me equilibrando entre movimento e descanço enquanto senti que era necessário!
Hoje, em junho de 2024, escrevo para vocês de um lugar em que escolhi para fazer essa pausa!
Está sendo muito bom parar e poder cuidar melhor da minha da saúde e dos meus cachorros!
Parar também é movimento!
Movimento de se acolher, se escutar, juntar ferramentas e poder recalcular a rota de acordo com o que faz sentido agora, já que somos ciclícos!
Nanda Alcantâra – @emocio.nanda
Naquele dia, meu corpo me parou e não pude chegar ao local combinado!
Chegando ao hostel, encontrei Italo, meu amigo brasileiro que foi até lá para se despedir de mim – pela terceira vez! rs… sempre que saio de uma cidade rolam várias despedidas hehe… Em Ilhéus tive umas seis!
Italo e eu fomos para o rooftop do hostel conversar enquanto eu descansava!
O descanso não foi o suficiente para que eu conseguisse me recuperar a ponto de ir encontrar Dani e o pessoal!
Juntaram-se a nós um uruguaio e dois canadenses.
O uruguaio se animou em me acompanhar para a apuração. Mas, realmente não tive forças para ir cedo!
Quando desci, já pronta para sair, pouco tempo depois do final da votação, vi na TV do hostel, onde todos assistiam incrédulos como se fosse um velório, Massa fazendo o “discurso da derrota!”


Senti um arrepio percorrendo a minha espinha e um aperto conhecido no coração!
Me juntei a todos em silêncio, enquanto incrédulos velamos aquele pingo de esperança que tínhamos em nossos corações!
O clima nas ruas estava tenso!
Pessoas dirigindo em alta velocidade com bandeiras do seu país para fora do carro enquanto gritavam celebrando a vitória de Milei!
Antes de sair do Brasil, falei com dois amigos mochileiros para pegar dicas de viagem: o Rafa, que conheci em 2019 na Tailândia, e o Cris, já falei dele em outro post.
O Rafa, como viajeiro que é, me falou que ia ser legal estar neste período para acompanhar o processo eleitoral de outro país.
O Cris me disse que estava preocupado com o resultado das eleições e que ia acompanhar minha viagem para saber sobre isso também!
Logo que cheguei à Argentina, comecei a sondar as pessoas com quem eu conversava. De um jeito discreto, porque:
“eu vim de lá, pequenininho
Dona Ivone Lara
alguém me avisou
pra pisar nesse chão devagarinho”
Por mais tentador que me parecesse, eu renunciei (o quanto pude) à posição de tentar “virar votos”!
Eu estava em outro país!
Não podia chegar lá tentando “ensinar” o que acho certo!
Eu queria observar, escutar e sentir!
É esse meu estilo de viagem e de vida!
Não poderia ter outra conduta!
Me parecia cansativo e pouco inteligente assumir outra postura!
Confesso que essa postura que assumi foi bem mais difícil que “fazer campanha”, algo que eu sabia fazer desde que me entendo por gente!


Mas, a gente te que pisar devagarinho no espaço do outro!
Eu nunca tinha estado na Argentina! Naõ sabia ao certo o que estava se passando!
Sabia o que eu lia a respeito na internet apenas!
Se tem algo que essa viagem me ensinou ainda mais foi a me questionar sobre “as verdades” prontas que me entregam, não importa quais sejam de fato!”.
Aliás, aqui estou deixando a minha opinião!
Estou contado para você como foi pra mim!
Não há verdade e nem mesmo mentira!
Só a minha experiência que é pautada na minha vivência, de onde vim, por onde andei e onde estou enquanto escrevo!
Há 7 meses esse post estava totalmente diferente!


Percebe a importância do tempo para digerir tudo o que vivemos, sentimos e pensamos?
Então, aos poucos fui entendendo o que estava acontecendo:
Eu estava vendo o Brasil de 2018:
Com algumas diferenças que me impactaram muito!!!
- Percebi o quanto precisei amadurecer desde 2018!
Isso foi um gatilho de memória para tantas dores que passei na gestão de Bolsonaro!
Dores emocionais terríveis sendo representadas por um governo eleito democraticamente!
Me questionei sobre “o que é democracia em tempos digitais?”
Todos os dias os jornais noticiavam decisões, falas e absurdos diversos que eram cometidos pelo governo, apoiado por muitas pessoas na população e que impactaram a saúde fisica e mental de todos nós!
Sabemos da importância da manipulação e compartilhamento das informações na eleição na extrema direita em todo o mundo.
Mas eu estava tendo a oportunidade de observar isso em outro país, o que nos leva a outro ponto:
- Consegui assistir tudo sem me deixar dominar pelo ódio:
Isso não foi fácil!
Mas consegui, mesmo me permitindo sentir as emoções, afinal, sou EmocioNanda!
Consegui ouvir o outro lado: aquele que eu não concordava!
Treinei a habilidade de entender!
Lembre-se que entender não é concordar!
Isso me trouxe reflexão, aprendizado e, por consequência, trabalho para todas as áreas da vida!


- Eu tinha um prognóstico completo dos próximos 4 anos se o resultado das eleições fosse diferente do que eu desejava. Isso incluí analisar o discurso dos que votavam sem consciência!
De início me conectei mais com eleitores do Massa!
Não que eu tivesse planejado, mas foram as primeiras pessoas que eu encontrei!
Porém, logo comecei a conhecer os eleitores de Milei, assim como também conheci Italo, um brasileiro que era eleitor do Bolsonaro e que se tornou meu amigo, o que parecia impossível em 2018 e por alguns anos que se seguiram!
Hoje, consigo me colocar num lugar de escuta, tentando sempre não achar que meu ponto de vista seja a verdade sobre ninguém! è o meu ponto de vista, mas nem sempre o outro vê as coisas do mesmo ponto que eu!
Não significa que eu apoie fascistas e seus ideiais!
Apenas consigo observar, na maioria dos casos, o que está por trás do discurso das pessoas que encontro. As vejo reproduzindo discursos dotadas por uma paixão evasiva sem o mínimo de consciência social!
Com amigos posso falar discontraídamente, com desconhecidos posso escolher escutar ou me afastar!


Amigo Argentino eleitor de Milei
Já o Itálo, por exemplo, é um menino jovem, apaixonado e em busca de seu caminho, com vários atravessamentos socieias e políticos, de cidade de interior do Brasil.
Quando falo interior, estou falando de interior mesmo!
Do tipo que você, da cidade grande, nunca vai conhecer porque não é turistico, não está viralizado no Instagram e o Fantástico não costuma noticiar em sua pauta.
Eu, sudestina com certo ranço do ego-sudestino, tenho me conectado nas minhas andanças pelo mundo com as muitas formas de viver enquanto vou descobrindo esse ego em mim e tentando expandir!


Sabemos que “o ponto de vista é a vista de um ponto”!
Viajando levo meu corpo, meus olhos, a minha escuta a tantos outros pontos tão distantes dos lugares de onde vim que minha perspectiva sobre viver se amplia a cada vez mais!
Escrevo para compartilhar com os mundos quantos mundos coexistem!
Por um tempo fiz isso da varanda do meu apartamento em Ilhéus/BA enquanto contava para um casal de amigos queridos que me ouviam como quem assiste Nandaflix e me incentivavam, como outros amigos e a minha psícóloga, a compartilhar isso tudo com o mundo!
Lilly, com olhos brilhantes e marejados, me falou do quanto me escutar transformou a sua vida e a fez ver, não só o tamanho do mundo, mas seu tamanho nele!
A minha amiga aprendeu a acreditar em si enquanto eu, como o Forest Gump, apenas contava histórias sem ter consciência do tesouro que eu guardava apenas pra mim!
“Uma história é um medicamento que fortifica e recupera o indivíduo e a comunidade”
Clarissa Pinkola Estés
Esse blog está aqui para isso!
O livro “O homem que tentou domar o unicórnio” é exatamente sobre isso!
Escrevi ele assim que cheguei em Ubatuba, nos primeiros dias em que morei na La Chakana, espaço cultural e de acomodação para viajeiros latinoamericamos fundado por Damian de Seta, assistente social, músico e viajeiro que fez de Ubatuba seu lar há mais de 5 anos e segue atuando no fomento à cultura da America do Sul.


Agora que viajamos um pouco no tempo e no mundo, daqui da “varanda da Nanda”, voltemos à Buenos Aires:
Fiquei hospedada em um hostel que estava funcionando há apenas duas semanas em Palermo!
Era ótimo e paguei um preço bem acessível por isso!
As pessoas que trabalhavam no Hostel, exceto por um funcionário, estavam desesperadas por medo de Milei ser eleito e do que iriam enfrentar caso isso acontecesse!
Choramos juntas


Uma das recepcionistas do hostel e eu, um dia antes da eleição, pelo mesmo motivo:
Ela com medo do futuro do país caso Milei ganhasse e eu relembrando como foi o Brasil nos últimos 4 anos da gestão anterior!
E ela me disse:
“O pior é que, se isso acontecer, vamos ter que secar as lágrimas e seguir os nossos dias como se fosse normal! Por 4 anos, todos os dias!”
Aquilo me quebrou!
Revivi os dias de pandemia quando o presidente do meu país debochava dos doentes, disseminava fakenews e fazia discursos anticiência!
Recordei tantas outras dores coletivas e pessoais que eram agravadas pelas suas falas e ações…
Senti a dor e a solidão me esmagando como se tivesse voltado no tempo, como se tivesse vivendo os anos anteriores!
É louco o que a memória desperta nos nossos corpos e emoções, não é?
Nos abraçamos e choramos pelo passado, pelo futuro, em um presente que agora é passado.
A vida não é um morango


Nas ruas, muitas pessoas que encontrei defendiam seu voto em Milei!
Seus argumentos eram os mesmos que o de grande parte das pessoas que eu comecei a ouvir ainda no governo Dilma, assim como dos eleitores de Bolsonaro em 2018:
“não quero mais 20 anos disso”
“Massa como ministro da economia não fez nada! Por que faria como presidente?”
“não ao peronismo!” (equivalente a #ForaPT)
Então a minha preocupação já aumentou e, confesso, entrei em um clima de “já perdeu!”.
Milei estava eleito!
O frio que percorreu minha espinha, me tirou o restinho de energia que eu ainda tinha!
Me sentei ali mesmo, na escada.
Meu corpo parecia um trapo!
Me passaram 4 anos em alguns segundos!
Eu não podia acreditar!
O Cris começou a me ligar, mandar mensagem no Whatsapp para saber os resultados das eleições e, quando falei, choramos juntos!
Desisti de ir a encontro de Danielle e do pessoal!
Mandei mensagem pra ela e lamentei muito!
Disse que estava engatilhada demais para poder ir ao encontro deles.
Senti como se fosse uma notícia de morte que eles precisavam de um tempo para velar seus mortos, apenas entre eles.
Eu, revivendo aquele medo embalado pela certeza de dias difíceis, fiquei no hostel mesmo.
No dia seguinte, a outra recepcionista estava furiosa!
Ela era uma querida! Me chamava atenção pelo seu jeito doce!
O seu sorriso te fazia querer sorrir de volta só porque ela te encheu de gentileza.
Essa mulher estava irreconhecível!
Seu olhar era de uma fera pronta para o ataque!


Uma fera daquelas que, mais do que apenas pela sua vida, luta pela vida do seu filhote!
Aquela mulher tinha furía nos olhos e no maxilar!
Ela estava trocando de turno com um cara que eu tinha conversado algumas noites anteriores.
Ele, único eleitor de Milei entre todos os que conversei ali no hostel, estava com um olhar desconfiado como o de um cachorro que tá tomando bronca e não entendeu ainda muito bem porque!
Ela descarregou toda a sua indignação nele!
Eu, observadora deles e de mim, me vi nela anos antes!
No dia seguinte, chegou a recepcionista que citei antes.
Perdoem a falta de memória para os nomes, é sintoma dessas sequelas da Covid-19 e dos estresses da vida!
Seus olhos estavam inchados de tanto chorar!
Meu coração se derramou!


Abracei ela e, juntas, choramos outra vez!
Eu senti tanto!
Tanto por saber que dias difíceis estão previstos ao país irmão!
Senti por reviver com cada músculo e neurônio o que passamos nesses 4 anos de trevas!
Senti a tristeza por agora, seja de lá, seja daqui!
Hora de seguir viagem


Peguei o Uber e segui para o aeroporto para pegar meu voo para Mendoza.
O motorista, furioso com o resultado das eleições, me explicou uma coisa que, até então, eu não sabia.
“A oposição está muito forte, diferente do que o outro lá enfrentou no Brasil! E, em última hipótese, a gente vai pra rua!”
José, motorista do Uber
Aquilo me fascinou!
Já imaginei logo o povo nas ruas, lutando por seus direitos, firmes e…me dei conta do quanto isso é cansativo e injusto!
Injusto que o povo precise ir às ruas pelos direitos básicos! Mesmo que, hoje, ir às ruas também pode incluir passar nosso tempo de vida na internet defendo nosso o direito à vida, aos nossos corpos e a tudo o que permeia a nossa existência!
Como podemos estar em tempos tão modernos e nos sentirmos como se sentia boa parte da humanidade há séculos e décadas atrás como vemos quando estudamos história!
Tudo é história!


Ao longo do tempo, conversando com as pessoas que conheci e que votaram em Milei, notei que eram ou muito jovens ou muito velhas.
Com os mais velhos não pude me prolongar nas conversas, era impossível!
Quando eu perguntava o que os motivava a votar em Milei, eles começavam a falar alto e argumentar com fatos inconsistentes que eu já podia vê-los rezando para pneus em porta quartéis em alguns anos!
Tanto eles, quanto os mais jovens, tinha algo em comum com os eleitores de Bolsonaro: eles não tinham consciência política e, quando eu perguntava um pouco mais, eles diziam que não entendiam nada de política e que queriam que o peronismo saísse para que algo novo chegasse!
Era muito semelhante ao que vivemos aqui!
– Você está vendo ele prometer que as coisas vão piorar, que haverá fome, que muitos direitos serão perdidos? Como você consegue votar nele? – questionei a alguns deles – mesmo jurando ser isentona!
– Ah, ele não vai fazer isso! – respondiam como que se programado por um algoritimo macabro que lhes sugou toda a crítica!
– Tá prometendo e não vai cumprir? Então você vai votar em alguém que está te fazendo uma promessa porque você acredita que não vai cumprir, mas que parte do que fala te faz acreditar em dias melhores, mesmo que a promessa seja de dias piores?
E assim eles mudavam de assunto enquanto eu me roía por dentro, até me obrigar a aprender a apenas observar, o que me trouxe toda a possibilidade de refletir melhor e tornou meus dias mais leves!
Percebi que, em geral, os eleitores jovens com quem tive contato eram de classe média e nunca tiveram nenhuma atuação política e nem se reconhecem participando de uma comunidade.
Isso é um ponto sensível para mim que faço partes de tanto mundos e de nenhum ao mesmo tempo!
Hoje frequento festas e lugares que, até pouco tempo atrás, nunca imaginei que existisse!
Mas não esqueço do rolê na quebrada, seja ela qual for!
É esse o meu rolê!
Conhecer a cultura poupular me encanta no mundo!


Tem tanta distância entre esses mundos e eu atravesso todos tanto quanto eles me atravessam!
Identidade
Você percebe que estou falado todo o tempo da minha identidade? Do meu ponto de vista porque me prôpus a compartilhar com vocês como foi para mim viver isso!
Mas, para dizer isso preciso te contar sempre algumas coisas sobre mim para contextualizar.


Não é sempre que encontro alguma alma vizinha nesse mundão! Mas, em cada pessoa que encontro, vejo um pouco de mim e assim vou criando minha comunidade.
Então, tenho treinado não esperar do outro ver e fazer o que eu faria!
Esses jovens que conheci, não vinham de onde vim, não caminharam o mesmo caminho que eu!
Seu contexto era outro e, do ponto de vista deles, Milei era a opção plausível!
Suas rotinas, desde que se tornaram adultos, era de seguir seus dias de trabalho e desfrutar de seus finais de semana de festas e suas férias em algum lugar badalado dentro do que podem, sem sair da sua bolha!
Eu estava ocupando uma bolha aqui!


Em Mendoza conheci uma mochileira boliviana, uma querida!
Entre tantos assuntos que conversamos, política foi um deles!
Ela, também estrangeira, acompanhou o processo eleitoral. Com a diferença que ela achou bom o resultado!
Contou de sua perspectiva a situação política de seu país e como esta sendo ver o da Argentina.
Os argentinos eleitores “neutros” de Milei falavam: “agora é esperar que ela faça um bom governo!”
Nessas hora eu gritava por dentro:
“Como vocês podem esperar alguma coisa boa desse ser?” – enquanto sorria e balançava a cabeça gentilemente, não em concordância ou discordância. Era muito mais um gesto de um sentimento entre“lo siento, boludo!” e “sos um pelotudo!”.
Em Ushuaia confrontei um pouco mais a única pessoa decididamente eleitora de Milei que conheci: o dono do hostel que fiquei!


Ele era um apaixonado pela causa que Milei representava pra ele.
Um homem hétero cis, velho, branco, mêcanico de autos que trabalha em sua casa e casado com uma mulher incrível! Ela é professora e uma artista fenomenal!
Sabe aquelas mulheres que, em 30 minutos de conversa com ela você já viajou por diversos lugares, ideias e tempos?
Ela é assim!
Enquanto ele, com o seu jeito único de ser, explicava que estudou pouco devido às circustâncias de sua vida. Mas que, com muita luta e esforço conquistou tudo o que tinha. Então, ele afirmava que isso o capacitou muito bem dizer o que ele estava falando para defender com tanto entusiasmo as ideias de Milei!
Só este breve parágrafo já representa tantas coisas enquanto descrevo este homem, que, assistindo isso em outro país, pude entender ainda melhor, já que eu recitava pra mim como um mantra: “observadora!”.


“O gato subiu no telhado”
Era como se eu tivesse assistindo uma briga de família na casa de um primo, sabe?
Como se eu pensasse: “xiiiii…eu já vi esse filme em casa e os próximos capítulos são assustadores!” – enquanto soava uma música de suspense trágico na minha cabeça!
Mas, como não era a minha casa, eu simplesmente assistia, mesmo que meu corpo reagisse me trazendo à memória os anos que se passaram enquanto eu assistia “o primo” recebendo a notícia que era a hora de descer ao fundo do poço.
Mesmo que eles tivessem visto o que passamos, será que viram o que era real sobre o que nos passava, ou apenas recortes de notícias tendeciosas?
Quem eram essas pessoas que recebiam e compartilhavam essas informações com os argentinos quando éramos nós vivendo esse momento?
Será que eles sabiam mesmo o que se passou aqui?
Será que quem estava aqui no Brasil sabia verdadiramente o que se passava lá?
De que ponto eram essas vistas?
Que páginas eram essas que compartilhavam as informações?
Quem eram as pessoas dos comentários?
Eram informadas e críticas ou eram simplesmente haters que tem preguiça de ler, comentando pequenos posts, com poucas informações, e muito ódio!
Digo isso porque eu estava lá, mas seguia muito mais perfis daqui!
Então, mesmos nos de esquerda, eu lia nos comentários pessoas com ódio e violência comentando com informações distorcidas que me assustava!
Ah! Não é fácil ser uma emocionanda assumida, seja no mundo virtual ou concreto!
Nanda Alcântara – @emocio.nanda
Elas eram de esquerda!
Mas os seus valores me causavam um estranhamento tão doloroso!
Suas falas se pareciam com as falas dos bolsonaristas na violência das palavras!
Fiquei me perguntando, será uma mutação genética de quando a gente começou a transar com bolsominion? rs…


Calma gente, isso ainda não está liberado!
Mas acidentes podem acontecer, infelizmente!
Hoje não estamos tendo que lutar diariamente pela nossa existência, como na gestão anterior. Ainda que hoje estejamos batalhando muito pela defesa do direito de existir, ainda assim não falamos mais sobre política como falávamos entre 2016 a 2023.
Descansa miltante!
Mas cuidado para não sofrer acidente de percurso e sentar “à direita” para descansar! rs…
Era como voltar no tempo!
Voltando à Argentina, veja quantas reflexões estar ali me deixou!


Eu pude ver, sentir e refletir sem ter que defender meu direito à vida e dos meus, o mesmo que vimos e vivemos aqui em 2018!
Ouvi boatos que me deixaram ainda mais apavorada pelo tipo de pessoa que assumia o poder de um país latioamericano! Então, preferi deixar os boatos de lado já que, até aquele momento eram apena boatos!
A realidade já era tenebrosa!
Não tinha porque me apegar a coisas, que mesmo assustadoras e com sentido, não passavam de especulação.
Esse é um treino diário sobre as fanfics que a mente conta também!
Me peguei questionando todo o tempo: “q que isso representava na psique latinoamericana?”
Por que a Argentina, mesmo tendo nos assistido ir às ruínas, repetiu a mesma história, a mesma escolha e comprou o passaporte para retrocessos que trariam tempos muito difícies para o país!


Era o mesmo terrorismo de desesperança digital e de promessas absurdas que traziam, para as pessoas menos questionadoras, uma ideia de alívio com a esperança de um futuro melhor, mesmo que a promessa feita fosse de tempos ainda mais difícies, essas pessoas pareciam acreditar que isso não as afetaria!
O que as levava a tamanha cegueira? – pensei isso sobre nós, sobre os “hermanos” coletiva e individualmente.
A grande sacada!


Já em Usuhuaia, conversando com tantos eleitores dos dois lados, me veio uma cena classíca na cabeça:
Sabe quando as crianças estão jogando video-game e a criança menor quer participar e fica ali ao lado do sofá esperando a sua vez?
Então, as crianças maiores dão a ela um controle do video-game que está desconectado do aparelho.
A criança fica feliz por se sentar no sofá ao lado das crianças maiores que a representam, que ela admira!
Agora ela é parte daquele grupo que ficou tanto tempo observando fora do sofá!
O controle dá uma sensação de poder que a faz tão realizada que ela, por sua ingenuidade e falta de astúcia que as crianças maiores conquistaram em seus anos de vida há mais, não se questione sobre os movimentos que está fazendo e a resposta do jogo!
Isso porque, em geral, são movimentos parecidos, ou seja, ela está representada!
Pode ganhar consciência quando, mais madura, perceber que alguns daqueles movimentos ela jamais faria. Escolheria outros caminhos! A representatividade nunca seria total!
Independente de que lado dessa polarização política estivermos, acabamos sendo aquela criança!
O povo é a criança com controle desligado nas mãos, mas satisfeito por sentar no sofá!
Foi esse insight que me veio no Fim do Mundo! Ali, na ponto mais austral do planeta, em Ushuaia.


Depois de viver o Brasil de 206 em diantes e levar meu corpo até a Argentina, por acaso, no momento das eleições, era isso que eu conseguia sentir!
Me sentei ao lado da lareira do hostel e tomei cerveja com o dono do hostel, o que jamais aconteceria comigo há alguns anos.
Tirando as diferenças de ponto de vista, ele foi bastante gentil comigo e com todos os hospedes em sua casa!
Sim! O hostel é na casa dessa família e eles realmente nos tratam com o carinho e respeito que uma família trata, incluindo as diferenças! rs…
Ele me deu cerveja artesanla que um amigo próximo produz, nozes e um massageador de pés que fica disponível para ajudar os viajeiros a descansar os passos depois das trilhas naquele lugar mágico!


A diferença entre ouvir e escutar
Já faz um tempo que tenho observado outras coisas além do posicionamento político da pessoa. Mas que grandes oportunidades eu deixaria de viver se não escutasse para além das palavras, não é?
É óbvio que a escolha de um lado em temos polarizados fala muito sobre cada um de nós!
Mas, falando de pessoas comuns, de pesoas que são a criança menor como eu, talvez você… como o povo de forma geral que está na luta da própria subexistência, há de se entender todo o processo de construção de pensamentos daquela pessoa e respeitar!
Não é fácil, mas é salutar!
Obviamente é muito mais fácil entender isso com pessoas distantes, que não são do nosso convívio como familiares porque sobre eles derramamos muitas expectativas e frustração se transforma em uma fúria que pode adoecer.
Ainda assim não é impossível!
Certamente é mais desafiador, mas quando entendemos as nossas diferenças, as relações se tornam mais leves como foi pra mim encerrar a minha estadia na Argentina em uma ceia de natal com a família do hostel que é a casa da família.
Eu que nunca tinha tido uma ceia de natal em família com pessoas de visão política diferente da mnha, já que a minha família não é bolsonarista e não comemora natal, estava vivendo momento que vi muitas pessoas relatando desde 2016 nas redes sociais.


Conversar com todos, mas caminhar com nossos pares
Em Ushuiaia conheci Mauro Gómez, professor univesitário, peronista e uma alma sensível ao mesmo tempo que dedicada a justiaça social!
Passamos alguns dias juntos e trocamos muito sobre isso tudo enquanto fazíamos trilhas incríveis dentro do Parque Nacional e na Cascada Velo de Novia.


Mauro, como muitos argentinos, é encantado pelo Brasil.
No nosso primeiro encontro ele me disse que sempre fazia feijoada!
Eu fiquei surpresa já que feijão não é um alimento do hábito dos argentinos. Até então eu só tinha comido em um restaurante brasileir em Buenos Aires e já fazia muito tempo!
Conseguir os outros ingredientes na Argentina já seria um desafio, mas em Ushuaia me parecia impossível já que os alimentos que chegam lá são mais limitados.
Pela localização geográfica, pelo clima, não é fácil! As frutas, por exemplo, chegam congeladas para suportar a viagem.
Tudo é bem mais caro também!
Mas, Maruo e eu, fizemos o impossível!
Conseguimos adaptar os ingredientes e fomos para a sua casa onde fiz uma feijoada!
Eu fiz feijoada no Fim do Mundo!


Adaptando ingredientes, sem panela de pressão já que fora do Brasil não é um item usual como para nós, consegui!
Mauro ficou ainda mais encantado com o Brasil já que a feijoada que fazia, como aprendeu no Youtube, era diferente do que estava provando!
Ficou deliciosa! Até eu me surpreendi!
Essa é uma história que vale a pena, mas conto depois!
O fato é que seguimos conversando com frequência sobre política, econômia, espiritualidade e coisas da vida.
É fácil gostar e se relacionar com os nossos pares, não é?


Mas, nem sempre é possível fazer essa seleção!
Porém elas são as que nutrem, assim como precisamos nutri-las!
Falamos de espiritualidade, de política, de poemas, de tarô (ele é um baita tarólogo), cultura e visitamos lugares importantes relacionados a tudo isso!
Fizemos trilha descalsos sentindo a terra gelada de Ushuaia e caminhamos descalsos pela cidade para comprar a carne do assado.
Algo incomum em um lugar que a temperatura mais alta até aquele dia era de 9°C.
Cercados por montanhas de gelo, perto do mar, pudemos compartilhar muito das nossas vivências tão semlhantes e tão distantes ao mesmo tempo!
Não importa aonde você estiver, você sempre vai achar a “sua turma” e, se souber escutar, pode encontrar muitos tesouros, mesmo nas diferenças, que vão agregar à sua jornada.


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