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O banho que lava a pele é o mesmo que revela camadas da sua alma
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O primeiro banho quente em 98 dias tirou camadas do meu corpo psíquico que precisam de calor para serem dissolvidas.
Se você ler a minha bio, meu blog ou as minhas legendas nas redes, talvez possa me conhecer um pouco. Talvez, vá apenas me julgar conforme a sua realidade, buscando encaixar minha existência no que lhe ensinaram sobre si.
Eu mesma fiz isso por muito tempo, até que a vida/morte/vida — parafraseando Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos — me ensinasse a rasgar toda e qualquer caixa que quisesse me encaixar, tentar caber.
Me conhecer melhor me parece um trabalho diário, mas não mais exaustivo.
Tá ficando a cada dia mais bonito, mesmo que nem sempre seja leve.
A vida não é um morango, tão pouco uma pipoca para ser leve e palatável.
A vida me parece mais um cupuaçu com sabor marcante, que exige força, leveza e certa técnica para debulhar.
Você pode fazer suco, sobremesas diversas ou deixá-lo estragar na fruteira por falta de ímpeto em colocar as mãos na massa para extrair seu sumo.
Preciso ser justa em dizer que, de tudo o que carrego na minha mochila, algumas ferramentas fizeram toda a diferença para acolher essa demanda:
Sou psicóloga junguiana e psicoterapeuta corporal. Meu trabalho é focado na integração fisiopsíquica, na integração das nossas partes, do nosso corpo/mente e na escuta dele em meio a tudo que nos toca.
Então, senti ali um baita desconforto de memórias que estavam registradas no meu corpo psíquico e, mesmo doendo um bocado, acolhi gentilmente (não é uma tarefa fácil).
O banho é uma forma de regulação emocional. Sabe quando você não está bem, sente uma tensão te atravessando e vai tomar um banho quentinho para relaxar e ficar em silêncio?
Isso é uma das possibilidades da regulação emocional que nossa psique, sabia, busca sozinha para nos acolher.
Hoje, 98º dia do ano, em um novo destino, Alter do Chão,
tomei meu primeiro banho quente de 2025.
O último tinha sido em Ilhéus, em 31 de dezembro de 2024,
na casa da família que a minha alma encontrou nas estradas da vida.
Ali, onde encontrei pertencimento e admiração por ser exatamente quem sou, mesmo quando me tocavam a existência de um jeito duro e profundo.
Onde tive lar, mesmo que o mundo lá fora me julgasse para se livrar do fardo de ser injusto. Onde aprendi a ser lar e a rejeitar aquilo que me rejeita, porque eu só posso ser eu.
Revisitei lugares, afetos e, acima de tudo, a mim mesma e as memórias que já não cabiam na minha mochila.
Recebi amor para me lembrar de ser amor, independente do que os olhares externos, em alguns lugares, pudessem dizer diante das suas expectativas frustradas, porque decidi “não performar” e viver de verdade.
Ali fechei um ciclo.
Segui viagem, passando por duas ilhas, duas capitais e hospedagens diversas que eu trocava, ainda que na mesma cidade, para acolher as minhas necessidades com amor e gentileza, enquanto sigo cuidando de mim e de tudo que vive e morre em mim a cada passo.
Desde então, venho cruzando territórios, hospedagens e versões de mim.
Duas casas em Itaparica. Três em Salvador.
Belém em três passagens rápidas, antes de me render ao Marajó,
onde fiquei mais de um mês e recebi um ebó de amor e conexão profunda.
Descobri que a minha alma se preparou, há mais de uma década, para atravessar o Rio Amazonas, embalado pelo balanço da rede em um navio cargueiro, e percebi que o rio que me atravessou, com sua extensão, profundidade e o ronco do motor, me lembrou de encarar meus medos mais profundos e de não me sentir ameaçada, mas apenas estar atenta.
Finalmente cheguei em Alter, o lugar que surgiu como desejo profundo em minha alma quando minha vida não se parecia, em nada, com o que vivo hoje, ainda que esse desejo de vivê-la soasse profundo e silenciosamente em mim.
Aqui, em Alter, sigo para minha segunda hospedagem.
Não foi uma jornada de luxo ou escassez.
Foi de presença. Escolhas conscientes. Corpo atento.
Banhos frios — parte da cultura, do clima, do ritmo do Norte.
Aprendi o valor da presença, da necessidade, do respeito aos lugares e à cultura, e que nenhum lugar existe para atender aos meus desejos. Ainda que, caminhando, eu encontre comigo e os migos de mim.
Aprendi que suportar o desconforto daquilo que antes conhecia como comum tem um valor imenso na minha existência, e que o respeito ao outro é parte rica dessa jornada.
Os banhos frios, quando o desejo pelo “quentinho” conhecido se faz presente, me mostram que é fundamental aceitar o presente possível e transformá-lo em cuidado.
Mas naquele banho quente, numa casa de um paulista que instalou chuveiro elétrico para se acolher, para se relembrar de um calor importante para si, que partilha com os viajantes que se hospedam em seu hostel, algo se abriu.
Não era só o corpo que aquecia —
era a alma que se lembrava.
A pele amoleceu. Vieram memórias:
da menina rejeitada à mulher que precisou ser forte cedo demais;
a caminhante que, passo a passo, passou a se enxergar.
Foi o calor da água que me lembrou dos frios que meu corpo carregava
enquanto eu refazia minha mochila com o que preciso
e com o que vou precisar mais adiante.
Agora, sigo para um lugar que
se encaixa no meu orçamento e no meu coração.
Com quarto e banheiro só meus.
Mais dias de banho frio, após me lembrar do que me lembra o “quentinho”, são um lado que se complementa ao conforto — mais verdade, privacidade e conexão.
Não tem banho quente e isso não me frustra há muito tempo.
E isso também é autocuidado:
escolher o que sustenta, não o que preenche tudo.
Lá tem Capoeira Angola, natureza, cachorros, comunidade.
Presença viva.
Coisa simples que sustenta.
Talvez essa escolha me prepare —
não só para as próximas etapas da viagem,
mas para continuar sendo quem sou:
alguém que se estuda, se escuta, se acolhe,
mesmo quando o mundo (ou o chuveiro) não oferece tudo que eu queria.
Hoje, entre 8 bilhões,
sou eu quem me escuta.
Sou um corpo no mundo.
E isso… é o bastante.
E você, já parou para ouvir o que seu corpo tem a dizer nas pequenas tarefas do dia a dia?
Está pronta para aprender a cultivar essa escuta e se conectar ainda mais consigo mesma?
Venha comigo nessa jornada de descoberta e cuidado.


Qual foi aquele momento simples que te atravessou como um rito?
Compartilhe nos comentários se você tem escutado seu corpo/alma falando.
Aos poucos, vou partilhar mais fragmentos dessa travessia —
um caminho de corpo, alma e escuta. Fica por perto.
Vamos juntas?
#SouUmaMasNãoSouSó


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Uma resposta para “O banho que lava a pele é o mesmo que revela camadas da sua alma”
Parabéns pela coragem que inspira!
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